Detox, juicing, souping, granolas, panquecas, happy bowls, quinoa, paleo, antioxidante, probióticos, glúten, trigo-sarraceno, bulgur, miso, espelta, spirulina, maca, goji, chia, stevia, macarroba, ghee, quark, skyr, óleo de coco.
A lista não tem fim. São conceitos-tendência que, afinal, já cá andam neste mundo desde o tempo em que andávamos a tentar fazer fogo com duas pedras.
O mundo dos alimentos saudáveis não para de nos surpreender, mas a mim, aquilo que mais me faz confusão, é a volatilidade com que eles se tornam saudáveis e de repente deixam de o ser, pelo menos em parte. E não falo das sardinhas que antes faziam mal e agora são ricas em ómega-3, do óleo de girassol que era muito mais saudável do que o azeite ou do açúcar – sim do açúcar. A minha avó conta muitas vezes que o médico da aldeia dela dizia aos pais para deixarem a saca do açúcar aberta, de modo a que seus petizes pudessem comer dele à vontade, pois fazia muito bem aos ossos – imagine-se!
Falo de coisas bem mais atuais, como os sumos detox que são ótimos para tudo (mas que a seguir podem matar), da granola que é top (mas, alto lá, isto afinal está carregadinho de açúcar!), da dieta paleo (que é bem boa para o colesterol, mas não tão boa para o fígado), da soja (que era a coisa mais maravilhosa do mundo, mas que afinal está cheia de hormonas), dos iogurtes sem lactose, light ou skyr (tudo de bom, sem culpas e muito proteico, blá, blá, mas… estão cheios de açúcares camuflados, edulcorantes, espartame e sabe-se lá mais o quê), a chia (que não se pode abusar senão aquilo rebenta-nos os estômago de tanto inchar) e até os produtos biológicos podem já não ser assim tão biológicos (os velhacos!).
Onde é que tudo isto começou, é a questão. Eu arrisco a dizer que a moda da alimentação saudável veio primeiro com os produtos light e logo a seguir com a redescoberta da soja. Durante alguns anos foi assim, de vez em quando lá vinham as algas, o arroz e as farinhas integrais ou a frutose darem o ar da sua graça (destes acho que hoje em dia só a as pobres algas continuam a usar o título “saudável”).
Não sei bem precisar, mas arrisco a dizer que as redes sociais e os blogs, bem como algumas figuras públicas e as nutricionistas da moda, vieram dar um grande impulso a esta corrente da alimentação saudável. O grande boom foram os sumos detox e daí até à “comida do bem” foi um saltinho. Isto trouxe muitas coisas boas, a meu ver: a maior parte das pessoas está melhor informada sobre aquilo que come e pode fazer melhores escolhas. Outras coisas não são assim tão boas: há algum fanatismo sobre algumas destas tendências que, pessoalmente, não concordo muito. Por exemplo, quem não tem qualquer tipo de intolerância deveria mesmo excluir o glúten? Devíamos excluir todo o açúcar e gorduras completamente da nossa alimentação? Devíamos só comer super bowls ao pequeno-almoço e excluir a torrada com café com leite? Devíamos comer só coisas cruas?
Todas estas questões vêm à baila, principalmente quando estou com algumas amigas minhas. Esse grupo de amigas em particular é constituído por pessoas muito bem formadas, que se interessam muito pelas tendências e estão atentas àquilo que está a dar. São pessoas trendy, vá. Quando estamos juntas, quase sempre falamos sobre um ou outro ponto daquilo que está a dar na alimentação saudável. Não é uma conversa planeada, simplesmente acaba por calhar em conversa (verdade: reunimo-nos quase sempre em volta de um belo respasto). E no final, há sempre dúvidas que nos assolam o pensamento. Já chegámos mesmo à conclusão de que não há nada a fazer: há vários pontos de vista sobre o leite de soja, sobre a dieta paleo, sobre o jejum prolongado, sobre a chia, sobre a manteiga e a margarina, sobre o óleo de coco, sobre o glúten… muitos pontos divergentes sobre todos eles e questões, muitas questões, que pairam no ar.
Eu arrisco a dizer que os meios de comunicação também têm culpa no cartório (lembro-me da capa da Visão sobre os sumos detox, com a Jessica Athayde toda gira na capa, da reportagem da SIC sobre o açúcar que lançou a polémica ou a mais recente bomba sobre os produtos biológicos, também na Visão).
Penso que tenho alguma legitimidade para falar do assunto, já que a minha formação base foi o jornalismo e agora trabalho na área dos produtos saudáveis! Ironias. Na minha opinião é preciso informar bem o consumidor e informar sobre aquilo que é realmente saudável. Ser saudável é ser equilibrado e estar bem consigo próprio. E se isso for comer uma bola de Berlim na praia em plenas férias, que seja. Para mim, passar o Natal sem uma rabanada no bucho - não vai dar! Ou ir comer uns caracóis sem um pãozinho torrado a fazer pandã é para esquecer. Mas obviamente que no dia-a-dia temos de ter algum tento na língua, literalmente. Não vamos ser uns alarves a vida toda. Mas também não podemos ser escravos de modas e tendências. Um pouco como acontece nas peças de vestuário, vá. O equilíbrio dos clássicos ganha sempre.
Monstra S.